sexta-feira, 10 de junho de 2011

Efeito dos adoçantes artificiais no peso corporal

            No dia 11/05/11, o site UOL Notícias publicou, no setor Ciências e Saúde, a matéria “Refrigerantes com zero caloria não ajudam a emagrecer”, na qual demonstrou que os refrigerantes adoçados com adoçantes artificiais não favorecem a saciedade e ainda podem aumentar o consumo alimentar no indivíduo, contribuindo para o aumento de peso. Ainda afirma que o aumento do peso corporal pode ocorrer devido à mecanismos biológicos, que envolvem, além da diminuição da saciedade, costume do paladar e maior absorção de nutrientes na digestão, e à fatores psicológicos, de compensação de calorias não ingeridas pelos adoçantes, aumentando o consumo de outros alimentos.

            De fato, a literatura comprova a maior parte dessas afirmações por meio de estudos englobando a administração de adoçantes artificiais tanto em ratos quanto em indivíduos. O fator mais observado na maioria dos estudos é a direta relação entre aumento de peso e o consumo de adoçantes artificiais, tanto inserido em bebidas quanto em alimentos semi-sólidos, como o iogurte. Tal relação pode também ser observada em estudos populacionais americanos, onde observamos que o aumento do consumo de adoçantes artificiais coincide com o aumento do número de indivíduos obesos (IMC > 30).

De acordo com a literatura, a principal razão para a ocorrência do aumento de peso seria um aumento na ingestão de alimentos, mas ainda não se sabe ao certo como isto ocorre. Algumas hipóteses tem sido levantadas e uma delas seria que os adoçantes artificiais promoveriam este aumento através da falha na diminuição da atividade do hipotálamo (centro da fome no cérebro) e da baixa ativação do sistema dopaminérgico mesolímbico, reponsável pela sensação de satisfação após a ingestão de algum alimento. Assim, a falta da saciedade, juntamente com a constante estimulação da fome, manteria o comportamento por procura de alimento no indivíduo, aumentando sua ingestão alimentar.

Outra hipótese estaria relacionada com a desregulação da ativação da fase cefálica da digestão. Normalmente, quando ingerimos um alimento com açúcar, o sabor doce deste promove a ativação do que chamamos de fase cefálica da digestão, que consta na preparação do corpo para a chegada de tal alimento, incluindo tanto a liberação de enzimas e outras substâncias que participam da digestão, quanto à regulação energética corpórea. No entanto, o alto consumo de adoçantes artificiais em preparações não-calóricas (ex: refrigerantes, café, e outras bebidas) promoveria uma desregulação na capacidade do sabor doce de ativar tal fase cefálica, resultando em um prejuízo da regulação energética principalmente quando forem consumidos alimentos doces e calóricos, e levando a um aumento da ingestão calórica.

Os tipos de adoçantes que foram mais correlacionados com este efeito no aumento de peso são a sacarina sódica e o acessulfame de potássio. Em relação à estévia, os resultados são controversos, já que há poucos estudos realizados a fim de certificar tal efeito; em um estudo, os autores afirmam que não há relação entre o consumo de estévia antes da refeição e o aumento de consumo de alimentos durante a mesma. Porém, em outro estudo, observa-se que a estévia tem efeito similar ao da sacarina no aumento de peso. Já para o aspartame foi observado um interessante resultado; uma vez encapsulado e administrado em adultos saudáveis, não foi observado um ganho de peso. Porém, se administrado na forma de pó, onde os indivíduos conseguem sentir o sabor doce, há um aumento considerável no peso corporal, por meio do aumento da fome e da ingestão de alimentos. Isto talvez fundamente as hipóteses citadas acima, já que ambas são acionadas a partir da sensação do sabor doce.

Alguns estudos ainda observaram que tanto a falta de saciedade quanto a desregulação da fase cefálica provocados pelos adoçantes artificias se prolongam por certo tempo após a retirada do adoçante da dieta do indivíduo. Isto mostra que tais alterações metabólicas promovidas pelo alto consumo de adoçantes não são dependentes da presença dos mesmos para se manterem, e também não se sabe quanto tempo o corpo leva para reverter tal situação.

A partir da literatura revisada, podemos então afirmar que a escolha de bebidas e preparações adoçadas com açúcar é melhor do que as adoçadas com adoçantes artificiais?
Não. O açúcar é um alimento altamente calórico e que não possui quase nenhum nutriente, podendo seu excesso gerar uma série de doenças. Além disso, alguns estudos verificam a hipótese de que o açúcar apresenta um potencial viciante, já que ao ser ingerido desencadeia umas série de alterações neuroquímicas no corpo similares à administação de drogas, como morfina, que promovem a liberação de opióides e dopaminas, as quais levam ao vício.

E qual seria a solução para tal impasse? 
Reduzir a utilização de açúcares e adoçantes artificiais em bebidas, bem como a ingestão de bebidas industrializadas já adoçadas. Tal medida visaria modificar os costumes do indivíduo a fim de diminuir a preferência deste por alimentos e bebidas altamente doces. Como substituto ao açúcar, bem como aos adoçantes, o mel tem sido cotado como melhor opção. Estudos que o comparou com o açúcar observaram que ele promove um menor ganho de peso, diminuição na taxa sanguínea de triglicérides e ainda diminui o estoque de gordura no corpo. Desta forma, através da reeducação alimentar, pode-se reduzir o consumo de alimentos adoçados e optar por soluções mais saudáveis no momento de substituir o açúcar ou adoçante, evitando um possível ganho de peso e contribuindo para uma melhora na qualidade de vida e na saúde da população.

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